Entre as quatro mulheres que integram a equipe de transição do
presidente eleito Jair Bolsonaro, uma chama mais atenção. Trata-se da
índia Silvia Nobre Waiãpi, de 42 anos. Além de ser a primeira indígena a
integrar o Exército (ela é segunda tenente), Silvia tem um passado como
atriz. Seu último trabalho na televisão foi como Domingas, a empregada
da casa do protagonista Cauã Reymond na série “Dois irmãos”, de 2015.
Antes
disso, Silvia já tinha trabalhado em “Uga uga”, de 2000, onde ficou
famosa como a Índia Crocoká, que tinha dentes pavorosos e protagonizava
cenas hilárias correndo atrás de Marcos Pasquim.
Silvia Nobre Waiãpi como a índia Crocoká de “Uga uga” A
interpretação, no entanto, não resume nem metade da história de vida de
Silvia. Aos 3 anos, ela foi adotada e aos 7, começou a frequentar a
escola. “Eu queria estudar. Queria conhecer as letras”, contou ela em
entrevista a Jô Soares, em 2012.
Foi nessa época que Silvia
conheceu o bullying. De alunos e professores. “Eu só tinha uma camisa
com um botão nas costas. Ia com ela para as aulas e achava linda, a
minha melhor roupa. Notava que era deixada pelos grupos de alunos porque
era pobre”, descreve ela na mesma entrevista: “Lembro que toda semana
havia o hasteamento da bandeira e passei anos puxando a saia das
professoras para que me deixassem fazer aquilo. Nunca deixaram. Nunca
entendi por que me chamavam de legítima brasileira se nem isso eu podia
fazer”.
Silvia Nobre Waiãpi: a tenente da equipe de Jair Bolsonaro já atuou na TV Aos
13 anos, Silvia teve uma filha. Antes disso, quase morreu ao ter o
abdômen perfurado por um pedaço de madeira na floresta em que vivia. Aos
14, ela fugiu da aldeia e foi parar no Rio de Janeiro. Ficou dois meses
morando na rua e passou fome até vender uma pedra que trazia de sua
tribo. “Só tinha aquilo de valor. Uma pedra que peguei no fundo do rio e
tomei como um amuleto. Eu acreditava que ela tinha poderes mágicos e a
vendi assim. Com o dinheiro consegui comer por duas semanas”, recorda.
Silvia
contou a Jô Soares que se foi capaz de vender uma pedra, poderia vender
qualquer coisa. Um camelô arrumou um lugar para ela morar, ela saiu
vendendo livros e revistas velhos até conseguir emprego no Círculo do
Livro. Foi lá que a incentivaram a estudar artes.
Silvia Nobre Waiãpi foi a primeira indígena a integrar o exército Silvia
mantinha um blog no qual escrevia poesias e em sua descrição no
Facebook, ela diz: “Eu sou a onça que caça e sangra... Aquela que rola
no chão sem medo enquanto a caça se debate!”. Não é figura de linguagem
apenas. A índia se tornou atleta depois de quase sofrer um estupro. Foi
medalhista de atletismo pelo Vasco da Gama e conseguiu uma bolsa de
estudos para cursar a faculdade de Fisioterapia. Depois da graduação
prestou concurso para o Exército e finalmente pôde realizar o sonho de
hastear uma bandeira. “Acordo todos os dias pensando que vou mudar meu
país”, garantiu ela em outra entrevista.
Mãe de três filhos e avó
de uma neta, Silvia dá expediente no Hospital do Exército, em Benfica,
na Zona Norte do Rio, e até ser convocada por Bolsonaro trabalhava de
domingo a domingo fazendo pesquisa na área de reabilitação de lesões
medulares.
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